LEONARDO CONCON — A cidade de Olímpia, reconhecida por seu Festival Nacional do Folclore, despede-se de uma de suas figuras mais emblemáticas, o capitão José Ferreira, aos 90 anos, nesta segunda-feira (26). Fundador do Grupo Folclórico Terno de Congada Chapéu de Fitas, Ferreira foi não apenas um participante, mas um pilar fundamental na história e evolução do Festival de Folclore de Olímpia (FEFOL), que celebra neste ano seu 60º aniversário.

Estevão e o ‘capitão’ José Ferreira

A contribuição de Ferreira ao FEFOL e à cultura folclórica de Olímpia é inestimável. Segundo a tese de mestrado do pesquisador Estêvão Amaro dos Reis, apresentada no XXII Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música em 2012, “O Festival do Folclore de Olímpia e a Congada Chapéu de Fitas são entidades que compartilham uma história conjunta, tendo o grupo surgido em função do festival.” Esta relação simbiótica entre Ferreira e o FEFOL exemplifica o impacto duradouro que um indivíduo pode ter na preservação e promoção da cultura tradicional.

“O Grupo folclórico Terno de Congada Chapéu de Fitas foi fundado na cidade de Olímpia, São Paulo, por José Ferreira em 1974 e desde então se faz presente, participando anualmente do FEFOL. O grupo possui uma característica bastante peculiar, ligando-o de maneira ainda mais intrínseca ao FEFOL: A Congada Chapéu de Fitas deve o seu nascimento ao Festival do Folclore de Olímpia, incentivada e apoiada por José Sant’Anna”, relata Estevão na tese de Mestrado (que, em 2016, apresentou-a com mais detalhes na tese de Doutorado).

Estevão faz parte da Associação Olímpia para Todos, que é parceira da Prefeitura na realização do FEFOL, desde 2021, auxilia no Projeto ProAC e, atualmente, colabora com a Fundação Roberto Marinho, na implementação do Novo Museu do Folclore de Olímpia. Aqui, Estevão grava com o capitão José Ferreira, que conta como tudo começou com o ‘moço’ José Sant’anna, em 1974:

José Ferreira e sua esposa dona Edna (dona Dina )

Nascido em Lagoa da Prata, Minas Gerais, Ferreira trouxe para Olímpia não apenas as tradições de sua família, mas uma determinação para perpetuá-las. A criação do Terno de Congada Chapéu de Fitas em 1974, após um encontro significativo com o professor José Sant’anna, marcou o início de uma nova era para o folclore local. “Esse encontro foi decisivo,” relatou Ferreira sobre a formação do grupo, “foi a partir daí que conseguimos criar algo que ressoasse com as tradições que eu vivenciara em Minas Gerais.”

ANTES DO TERNO DE CONGO, A COMPANHIA DE SANTOS REIS
Segundo relata Estevão, apesar de toda a tradição da sua família nos assuntos do Congado o Capitão Ferreira chega a Olímpia sem o seu Terno de Congo, mas não completamente desvinculado das suas tradições. Traz consigo uma Companhia de Santos Reis, formada por seus familiares, que posteriormente motivou o seu encontro com o professor Sant´anna. O Capitão Ferreira nos relata como se deu esse encontro, cujo desdobramento propiciou a criação do Terno de Congada Chapéu de Fitas.
Em 1974, Ferreira declarou: “Esse encontro foi através da Companhia de Santos Reis, que foi feita em promessa por motivo de doença, né? E quando eu vim pra mogiana, eu vim de Goiás já trazendo esse compremisso [sic] com Santos Reis. […] depois calhou de mudar pra cá pra região de Olímpia. E mudando pra cá, a minha facilidade pra formar a Companhia foi maior aqui, aí nós criamos a Companhia, criamos essa Companhia e dois anos depois que nóis tinha criado a Companhia aqui, o Sant´anna me procurou pra cadastrar a Companhia na prefeitura e assim aconteceu”.

A influência de Ferreira vai além da fundação do grupo. Ele foi instrumental na realização da Festa em Honra a Nossa Senhora do Rosário, um evento que simboliza a essência das crenças e práticas dos congadeiros e moçambiqueiros.

“A Festa é o momento de renovação da nossa fé,” explicou Ferreira, destacando a importância do evento na preservação da cultura do Congado.

As homenagens póstumas refletem o profundo impacto de Ferreira na comunidade. A Comissão Organizadora do FEFOL expressou seu pesar, reconhecendo-o como “um dos principais ícones e defensores da cultura de Olímpia.” Sua morte coincide com o 60º aniversário do festival, um momento de reflexão sobre o legado de seus contribuintes mais significativos.

O Terreiro Caboclo Caramã e Pai Cesário, onde Ferreira também desempenhou um papel crucial, lamentou a perda, destacando sua figura como “um irmão, amigo, compadre, e mestre de Reis.” A nota de pesar enfatiza o sentimento de perda dentro da comunidade e o respeito pela contribuição de Ferreira à cultura local.

José Ferreira deixa para trás um legado que transcende sua contribuição ao FEFOL. Através do Terno de Congada Chapéu de Fitas, ele criou um canal para a expressão cultural que continua a influenciar gerações. Sua vida e obra permanecem como testemunho da importância da preservação da cultura folclórica e da capacidade de um indivíduo de inspirar uma comunidade inteira.

A cidade de Olímpia, embora de luto pela perda de um de seus filhos mais queridos, celebra a memória de José Ferreira e o imenso legado cultural que ele deixa para trás. Seu trabalho e dedicação à cultura do Congado e ao Festival do Folclore de Olímpia serão lembrados e honrados por muitos anos.

Chegada de Reis, de 2020

As homenagens póstumas serão prestadas na terça-feira à partir das 10h no Jardim das Primaveras,de onde o féretro sairá às 16h para o Cemitério local.

O Diário de Olímpia externa aos familiares, os mais profundos sentimentos de pesar.