Por Ivanaldo Mendonça — A dinâmica do tempo quaresmal que nos prepara para celebrar o evento central da fé cristã, á Páscoa, tem como foco o apelo á conversão. Conversão é mudança de vida (do sentido da existência), da forma de pensar (da mentalidade), da forma de sentir (das coisas do coração), da forma de se expressar (busca pelo equilíbrio), da forma de praticar (qualidade do fazer).

Este movimento que envolve o ser humano por inteiro é permeado pela fé, dom que nos abre ás realidades que não estão sob nosso controle, realidades que são e estão para além de nós, sem que isso nos diminua ou agrida.

A fé cristã é relacional. O encontro entre o divino e o humano acontece na força do amor cuja origem é Deus-Pai (criador de todas as coisas ), amor que se revela no Deus-Filho (Jesus Cristo, enviado do Pai para redimir a humanidade do pecado e da morte eterna), amor que se manifesta no Deus-Espírito Santo (que procede do Pai e do Filho).

Um único Deus, três pessoas distintas (Pai-Filho-Espírito Santo) que existem desde sempre e para sempre numa comunhão perfeita de amor.

Criado a imagem e semelhança de Deus o homem é fruto deste amor genuíno e sua felicidade depende necessariamente, de que, conscientemente, corresponda a este amor e para ele caminhe, na liberdade e responsabilidade. Por Cristo – com Cristo – em Cristo, o homem de fé aprende, compreende e busca viver a vontade do Pai.

Os limites da natureza humana ensinam-lhe, constantemente, que Deus é mais; as imperfeições, fruto do pecado que lhe rouba o sentido da existência, são superadas, com amparo de graça de Deus e pelo esforço contínuo.

A iniciativa do Pai que, em Jesus Cristo desce dos céus para nos salvar, manifesta a contínua busca de Deus pelo homem. Os Evangelhos, enquanto relatos teológicos, narram a dinâmica do encontro de Jesus com cada homem e com todos os homens, ressaltando a mudança qualitativa de vida daqueles que buscam o Senhor e por Ele se deixam encontrar. Somos ajudados nesta compreensão pelo Evangelho de João que narra o episódio da mulher pecadora (Jo 8,1-11).

Os ânimos exaltados dos que buscavam condenar Jesus levaram-nos a acusar uma mulher, pega em adultério, exigindo Dele uma solução, pois a lei prescrevia o apedrejamento para tais crimes. Se concordasse com a lei Jesus se contradiria, se não, também, pois seria conivente com o erro.

Escreve com o dedo na areia. Todos se afastam. Mulher, quem te condenou? Ninguém! Nem eu! Vá e não peques mais! Jesus acolhe a todos, revela o sentido do amor-misericórdia, corrige sem punir e propõe um novo caminho.

Sejamos promotores de encontros que transformam.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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