DA REDAÇÃO — Faleceu na última quarta-feira (7), aos 94 anos, o desembargador aposentado Djalma Rubens Lofrano, que atuou como juiz em Olímpia durante parte dos anos 1970. Natural de Mirassol e formado pela Faculdade de Direito da USP em 1953, Lofrano ingressou na magistratura em 1964 e chegou a ocupar a vice-presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo no biênio 1998/1999, além de presidir o Tribunal Regional Eleitoral do Estado. O corpo foi sepultado em sua cidade natal na tarde de ontem (8).
Em uma entrevista concedida há seis anos ao Arquivo Municipal de Olímpia, Lofrano revelou uma profunda conexão com a cidade, onde atuou por sete anos, entre juiz substituto e titular. “Foram sete anos inesquecíveis da minha vida. Muito bom”, declarou, emocionado ao relembrar o período.
Escolha pessoal por Olímpia e os desafios iniciais
A escolha por Olímpia foi pessoal e estratégica. “Quando fui aprovado no concurso, me deram a oportunidade de escolher. Eu rodeei até que consegui ser designado para Barretos, que englobava a comarca de Olímpia. E depois acabei sendo promovido para juiz titular de Olímpia”, contou.
Ele também destacou o volume de trabalho no início da carreira: “No começo, assumi simultaneamente a primeira vara de Barretos e a comarca de Olímpia. Era serviço para quatro ou cinco juízes”.
Cidade pequena, política intensa
Lofrano descreveu Olímpia da época como uma cidade de economia rural, com população concentrada na zona rural. “A cidade era um conglomerado pequeno, o comércio relativamente fraco e muita política. Brigavam, encrencavam… e quase sempre era o mesmo grupo que dominava”, observou, com bom humor.
A convivência com os moradores marcou sua memória. “Quando atravessava a praça principal, levava meia hora. Agora eu passo lá e ninguém me conhece”, refletiu, com saudade.
Personagens marcantes e ações sociais
Durante sua atuação, destacou figuras que o impactaram, como o servidor Amadeu Galmasi. “Nós não tínhamos um local para menores. O Sr. Amadeu passou a levá-los para casa. E quanto ganhava com isso? Nada”, relatou. Também elogiou Eveline do Arredar, por acolher visitantes e participar de todas as campanhas sociais da cidade.
Relembrou o trabalho ao lado de funcionários do fórum: “O Celso Maziteli, o Juvenal do cartório, o Lazinho do Registro de Imóveis, que virou um cartorário nato, com muita eficiência. Nunca deu ensejo a uma reclamação”.
Ajudado por servidores e colaboradoras como Cida, que usava os recursos da verba da colocação familiar para montar cestas básicas e fazer caridade, Lofrano se envolveu diretamente em ações sociais. “A Cida me ajudou muito nesse ponto, como tem me ajudado até hoje”, afirmou.
Memórias da advocacia e dos júris
Antes de ingressar na magistratura, atuou por 11 anos como advogado em Mirassol, quase sempre de forma gratuita. “Trabalhei bastante, sobretudo para os pobres, porque não havia organização na OAB para atendê-los. Nos 11 anos, nenhum réu pobre de júri foi defendido por outro advogado. Era eu, sempre eu”, relembrou.
Quando outro advogado era nomeado, era comum recusar a nomeação: “Lavravam um despacho dizendo ‘declino da honrosa nomeação por motivos de foro íntimo’, e o juiz voltava a nomear a mim”, contou, entre risos.
Relação com os olimpienses e reconhecimento
Lofrano foi respeitado pela comunidade e autoridades locais. “O sargento do Tiro de Guerra me colocava em todas as solenidades, me levava em casa para discursar. Eu era muito falador”, admitiu. E completou: “Tive uma convivência maravilhosa com os advogados. O doutor Jerônimo trazia mangas da fazenda. O Antônio Scatolin, o maior rico da época, me levava cestas com ovos, frutas”.
Legado e orgulho familiar
Após décadas de dedicação à justiça, Lofrano se emocionava ao falar dos filhos: “Dois filhos homens e uma mulher. Todos fizeram Direito. Os dois homens seguiram minha carreira e chegaram ao Tribunal de Justiça. Não posso ter glória maior que essa”.
Encerrando a entrevista, demonstrou gratidão e disposição para continuar colaborando: “A minha contribuição foi mínima, mas continuo sempre à disposição, aqui em São Paulo, para colaborar com o que precisarem”, concluiu, à época.