Por Jacyr Costa Filho* Nos últimos meses estamos vivendo algo que nunca pensávamos em presenciar: uma pandemia de um vírus jamais visto paralisou várias atividades do nosso cotidiano seja no trabalho ou na vida social. O alto grau de contágio e a falta de uma terapia comprovada que enfrente os males decorrentes do novo coronavírus fazem com que muita gente no mundo inteiro esteja neste momento confinada. Só para pegar um número para ilustrar o impacto do isolamento social: no dia 28 de abril, o Dia da Educação, cerca de 1,3 bilhão de estudantes no mundo inteiro estava em suas casas – 3 em 4 cada estudantes.

A covid-19 está nos trazendo diversos percalços, mas também muitos aprendizados. O primeiro é que a sociedade já deveria ter elevado a preocupação com a saúde pública. E não me refiro a estarmos preparados com leitos de hospitais, mas, sim, para evitarmos doenças. A poluição, principalmente a do ar, é um dos maiores problemas de saúde do mundo.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 91% da população do planeta vive em locais com a qualidade do ar abaixo do recomendado. A instituição também estimou que a poluição é responsável por 7 milhões de mortes prematuras por ano, em todo o mundo. No Brasil, especificamente na capital paulista, a poluição é responsável por 12% das internações, segundo o Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP).

Alguns cientistas apontam que a queda da poluição que está acontecendo durante a quarentena é tão acentuada que, se estivéssemos com estes índices antes da pandemia, milhares de vidas seriam salvas, pois esse mal é responsável por provocar e agravar quadros de doenças respiratórias em todo o planeta. A reflexão fundamental é sobre o que temos que fazer para se reduzir a utilização de combustíveis fósseis como fonte de energia

Para a Escola de Saúde Pública de Harvard TH Chan, em Boston, existe ligação direta entre taxas mais altas de mortalidade com a poluição. As cidades com a pior qualidade do ar, por exemplo, possuem até 15% mais chances de morte por covid-19 que lugares mais limpos.

Em Nova York, as emissões de monóxido de carbono de automóveis diminuíram 50% em comparação ao ano passado, segundo a Universidade Columbia, no período de isolamento social. O mesmo aconteceu no Brasil. Segundo a Cetesb, a poluição atmosférica em São Paulo também caiu pela metade após uma semana de quarentena na capital. A região metropolitana de São Paulo, por exemplo, apresentou uma redução de 33% nos níveis de dióxido de nitrogênio (NO²) O foco tem de ser em particulados ou CO2.não NO2 A emissão do gás diminuiu mais de 30% nos meses de março e abril deste ano, em relação a 2019.

Se a poluição é o problema e contribui para os casos de óbitos, como podemos resolver? De acordo com o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo (USP), a gasolina aumenta em 30% a emissão de nanopartículas que entram nos pulmões que comprometem o sistema respiratório. Ainda, segundo a pesquisa, se São Paulo trocasse os combustíveis fósseis da frota veicular por etanol, a poluição cairia 50%. Isso acontece porque a cana-de-açúcar, em seu ciclo de desenvolvimento vegetal, absorve de 70% a 80% do CO2 liberado na queima do etanol combustível.

O Brasil é o segundo maior produtor de biocombustíveis, atrás dos EUA. Só na safra 2019/20, foi responsável pela produção de 33,26 bilhões de litro de etanol, e dispõe de infraestrutura existente para distribuição deste combustível renovável através dos mais de 42 mil postos de combustíveis distribuídos no Brasil todo.

A solução para prevenir doenças respiratórias existe no Brasil: o maior uso de biocombustíveis. Esta resposta pode ser copiada por diversos países do mundo, como Índia, China e outros, onde a poluição do ar nas grandes metrópoles é um grave problema.

* Jacyr Costa Filho é membro do comitê executivo do Grupo Tereos e presidente do conselho superior do agronegócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp)