Por Ivanaldo Mendonça — As festas de final de ano, somadas a tudo que as envolve, movem-nos à nostalgia, despertando saudades nem sempre lúcidas à mente e ao coração. Talvez isso aconteça pelo fato de o fechamento de um ciclo nos propor reflexão, revisão e avaliação acerca do caminho percorrido e de como administramos cada coisa e todas as coisas. Tal movimento manifesta a consciência da busca por melhoramentos e superações necessárias, algo próprio de seres propensos à evolução.

O tal “recomeço” é bem mais complexo do que parece, uma vez que é igualmente comum depararmo-nos com experiências concretas de quem está recomeçando há tempos sem sair do lugar (físico, mental, emocional, espiritual ou relacional). O que nos faz crer que recomeçamos sem que sequer um milímetro fosse percorrido, caracterizando, com isso, consequentemente, estagnação e, pior ainda, retrocesso? Este fenômeno merece especial atenção, uma vez que carrega consigo algo intrínseco ao ser humano: a capacidade de recomeçar.

Debrucemo-nos sobre o real sentido da expressão “recomeço”. Ensina o dicionário que recomeçar significa começar de novo, refazer depois de interrupção, retomar. Onde reside o fracasso dos que estão sempre recomeçando sem sequer sair do lugar? Qual a razão primeira do acúmulo de frustrações que a muitos acarreta, dentre outros sofrimentos, doenças mil, perda do sentido da vida e existência? Usemos como paralelo a expressão bíblica acerca do poder da oração, particularmente da prece, registrada na carta de Tiago: “Pedis e não recebeis, porque pedis mal” (Tiago 4,3).

Recomeçais, mas não saís do lugar, porque recomeçais mal. O ponto nevrálgico da questão não está na boa intenção, mas sim na forma como se faz; assim, também, o problema não está na oração de súplica em si, mas na forma como ela é feita. O recomeçar frustrante a muitos, embora movido por boa intenção, consiste simplesmente na repetição de caminhos, formas e fórmulas, ou seja, para a maioria das pessoas, recomeçar consiste em fazer de novo a mesma coisa. Ora, uma vez que as tentativas anteriores não obtiveram êxito, abraça-se gratuitamente o fracasso e a frustração.

O começar de novo, ou recomeçar, de maneira geral, banaliza a nobre e necessária arte do renascimento, confundindo-a com simples reforma ou retoque. A possibilidade de trilhar um novo momento da história requer, igualmente, a capacidade de real, profunda e concreta transformação, exigindo esforços mil no sentido de verdadeira restauração, não simples repetição. Nesse sentido vale dizer e viver: Começar de novo, nunca mais! Começar, sempre!

Ivanaldo Mendonça Padre, Pós-graduado em Psicologia [email protected]