Por Ivanaldo Mendonça – Por vivermos um tempo profundamente marcado pela prevalência da dúvida e incredulidade de todas as naturezas, Tomé é, dentre todos os santos, o mais evocado.

Quando Jesus Ressuscitado se manifesta pela primeira vez Tomé, um dos doze apóstolos, não está presente e, diante do testemunho eufórico dos companheiros reage: “Se eu não vir a marca dos pregos em suas mãos, se eu não puser o dedo nas marcas dos pregos e não puser a mão no seu lado, não acreditarei”.

Assim, a figura de Tomé é associada a todo aquele que duvida, não crê antes de obter provas concretas.É importante considerar que a hipótese da Ressurreição de Jesus era impensada, inclusive por seus seguidores, que embora acreditassem profundamente, não eram capazes de compreender o sentido e alcance de Suas palavras e obras.

Esta incapacidade não significa falta de fé ou incompetência, mas, sinaliza a limitação natural do ser humano diante da ação ilimitada de Deus.

Teríamos igual ou maior dificuldade do que Tomé em acreditar em algo até então impensável. Os que por primeiro viram o Ressuscitado, com certeza, ainda não compreendiam a largueza e profundidade do que estava acontecendo, porém, diante de provas evidentes, o próprio Cristo, mãos atravessadas pelos pregos e o lado aberto pela lança, não tinham como duvidar, o que não significa que, necessariamente, acreditassem com o coração.

A maioria dos que evocam a São Tomé como padroeiro oficial da duvida e incredulidade, desconhece ou ignora o desfecho da história. Este mesmo apóstolo, que diante do humanamente impensável duvida, surpreende e encanta ao proclamar a mais profunda e convicta verdade de fé no Cristo Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”.

O mesmo coração que duvidara, deixara-se abraçar pela ação transformadora do amor de Deus. Embora outros discípulos já tivessem visto o Ressuscitado, ninguém, havia se dirigido a Jesus reconhecendo-O como o próprio Deus.

Se a figura do Tomé incrédulo representa todos os que duvidam e, inteligentemente, fazem da dúvida o ponto de partida para toda e qualquer reflexão, postura ensinada ao longo dos séculos pela filosofia, não ignoremos o desfecho da história. O Tomé fiel representa todos os que passam pela duvida, superando-a.

O exemplo de Tome deve ser evocado, não para justificar fechamento e inflexibilidade, quando as coisas ultrapassam nossa capacidade de compreensão, fazendo-nos crer que ver e tocar são condições essenciais para compreender, crer e amar de verdade.

Invoquemos Tomé como exemplo de fé e superação. A quem tem buscado dar este importante passo é necessário perseverança. A quem, por qualquer razão humana, sente-se incapaz, não se esqueça: a ação amorosa de Deus é ilimitada.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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