Por Ivanaldo Mendonça — Novo ano! Diferentemente do ano civil, o ano celebrativo da Igreja inicia-se com o ciclo do Natal, composto por três momentos: preparação (tempo do advento), celebração (festa do Natal em si) e prolongamento (semanas seguintes ao Natal). As quatro semanas que compreendem o tempo do advento (termo relativo à espera, chegada), têm como principal propósito, preparar, sobretudo, através da escuta atenta à Palavra de Deus, os cristãos, pessoalmente e como comunidade de fé, para fazer memória do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Memória pascal! O calendário celebrativo da Igreja, chamado ano litúrgico, tem como elemento central o mistério pascal, realidade atemporal, que contempla a paixão, morte e ressurreição de Cristo, evento fundante da fé cristã. A partir do Cristo ressuscitado, compreendido como ‘Senhor de tudo’, as demais realidades adquirem importância, sentido e significado. Assim, o tempo é lido e relido a partir da manifestação de Jesus Cristo, Deus feito homem pela salvação da humanidade, considerado o coração da história.

Atualização dos mistérios da salvação! A expressão bíblica ‘fazer memória’, assumida pela liturgia, sobretudo quando da narrativa da instituição da Eucaristia por Jesus (‘Fazei isto em memória de mim’), mais que simplesmente lembrança, significa tornar presente, atualizar, no tempo e na história, aquilo que é celebrado. A celebração da fé, sobretudo dos Sacramentos (batismo, penitência, crisma, eucaristia, matrimônio, ordem e unção dos enfermos), sinais eficazes da graça de Deus, tornam presente e real, por meio da Igreja, o dom da salvação, que é Cristo Jesus.

Tempo de Deus no tempo do homem! Assim, a dinâmica celebrativa da Igreja estabelece profunda relação entre o tempo do homem (‘chronos’) e o tempo de Deus (‘kairós’). Enquanto o tempo do homem é relativo, limitado/limitante e, em última instância, caótico, o tempo de Deus é absoluto, ilimitado e eterno. Em Cristo, Senhor de todas as coisas (absoluto, ilimitado e eterno), e só Nele, a história humana (relativa, limitada/limitante e caótica) encontra pleno sentido e significado.

O início do novo ano litúrgico consiste em bela oportunidade humana, e exclusiva graça divina, de iniciar o novo tempo/tempo novo em nossas vidas e história; para além do ‘chronos’, do simplesmente humano, perecível e mortal, permitindo-nos ‘kairós’, profunda, alta e larga conexão com o divino, atemporal e eterno. Não começamos de novo como quem repete esquemas físicos, mentais, emocionais, espirituais, relacionais e de credo, viciantes.

Não começamos de novo!

Começamos! Começamos de fato! Começamos em Cristo!

Abençoado novo tempo – tempo novo!

Ivanaldo Mendonça Padre, Pós-graduado em Psicologia [email protected]