Por Ivanaldo Mendonça — A emblemática passagem narrada pelo Evangelho Segundo Mateus (Mt 21,28-32) muito nos ensina. Dirigindo-se a um dos filhos, o pai pede-lhe de trabalhar na vinda. ‘Não quero’, respondeu imediatamente, mas, depois, foi. De outro filho o pai recebe como resposta: ‘Sim, eu vou’, mas não foi. Qual deles fez a vontade do pai? O primeiro. Para além da obviedade do texto, sugerindo-nos obediência á vontade de Deus, e da simples orientação acerca de condutas, temos a oportunidade de mergulhar, mais profundamente, no sentido desta Palavra.

Enfaticamente, Jesus dirige-se aos sacerdotes e anciãos que questionam seu falar e agir: “Os pecadores e prostitutas vos precedem no Reino de Deus”.O primeiro filho equipara-se as tantas categorias de pecadores que, a princípio, teoricamente incapazes das coisas de Deus, mas que, abertos ao processo de conversão, ao se decidirem por Cristo, entregam-se por completo. O segundo filho equipara-se as tantas categorias de religiosos que, a princípio, teoricamente, capazes das coisas de Deus, não se movem, verdadeiramente, á Sua vontade.

Interessa-nos, sobremaneira, o movimento feito pelo primeiro filho. O que provocara tal mudança de atitude? A resposta imediata não consiste na recusa em fazer a vontade do pai, mas sim, numa indisposição, que poderia ser movida por inúmeros fatores; sua resposta equivale a dizer: ‘não estou com vontade’. Quantas vezes, também nós, não temos vontade de fazer algo bom, justo e necessário, em decorrência de nossos desajustes; da razão obstruída por opiniões subjetivas, gostos e desgostos á vontade movida por paixões, afetos e desafetos?

Sem contar as tantas impossibilidades que nos acompanham, mais que por falta de atitude, por não termos tido oportunidade de acessar determinadas verdades e valores, orientando-nos a partir daquilo que recebemos, ou deixamos de receber. Tantos são os que, a partir do encontro pessoal com Cristo, experimentam um amor tão completo, a ponto de mudarem, totalmente, a direção da vida, aderindo a processo de verdadeira conversão tornando-se discípulos fiéis, membros da comunidade eclesial e mensageiros da boa nova do Evangelho!

Qual o segredo? Decidir-se, verdadeiramente, por Cristo! Nele, revisitar o que somos e temos, passado e presente, em vista de transformações futuras; tomar-se nas mãos, saber quem se é, o que pensa e sente, o que nos move internamente, como traços de personalidade e tendências naturais, impulsos que tentam, silenciosamente, nos governar.

Só assim, superando desejos e vontades, gostos e desgostos é possível fazer, no amor, alegria, gratidão e esperança, mais que aquilo que queremos, aquilo que, realmente, deve ser feito.

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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