Por Ivanaldo Mendonça — De que adianta ao homem tantos esforços se terá como fim último a morte? Tal questionamento, certamente, está entre os que, ao longo dos tempos, mais inquietam a humanidade; isso é tão verdadeiro que lhe foram e são dedicados, de tratados filosóficos á poemas e canções. Tantos, cansados, esgotados e desesperançados, inspirados em perspectivas fatalistas, entenderam que, se a morte é apenas uma questão de tempo, seu sofrimento deveria ser abreviado, concedendo-se, o direito de dar cabo á própria vida.

Cada vez mais, somos desafiados a ler e reler os caminhos percorridos pela humanidade, atentos a três atitudes fundamentais: 1º) Aprender com a história, superando a tentação de julgá-la; 2º) Viver o presente, superando o risco e minimizá-lo; 3º) Contemplar o futuro, evitando aprisioná-lo ás percepções sensoriais, mentais, emocionais e sociais. Somos instigados a resgatar, tanto pessoal quanto coletivamente, o mais profundo sentido do viver e existir

Considerando a realidade que chamamos morte como fim último da existência, reduzimos tudo o que somos á simples combinação de fatores genéticos-biológicos-fisiológicos-mecânicos e a finitude do que temos. Ao mesmo tempo em que esta percepção conforta nossa compreensão, contraditoriamente, coloca-nos diante do desespero, teoricamente infundado. Costumamos dizer: “Diante da morte de alguém amado, ao invés de sofrer e chorar, a leitura do atestado de óbito deveria nos deixar satisfeitos e confortados.

Na prática, não só não é bem assim como não é nada assim, muito pelo contrário. Diante de realidade tão pouco ou quase nada considerada, contrariando o pensar, sentir, falar e agir do senso comum, que reduz todas as coisas ao alcance de seu míope olhar, despontam luzes. Nossa não conformidade com a morte revela, objetivamente, quão da vida e para a vida somos; nosso ‘dolorimento’ e sofrimento perante a morte acusam realidades que ultrapassam a medida do tempo, espaço e lugar.

Os questionamentos diante da morte, na verdade, versam sobre a vida. Incomodantes, tais questionamentos, próprios de seres livres, resultantes da capacidade de reflexão e comportamento responsável, fazem-nos grande favor, concedendo-nos, dentre muitos benefícios, compreender, de forma integral, que o sentido da vida e da existência está para além de nós, para além da morte. Tal decisão não cabe em nossas mãos, mas tal escolha sim: Viver para morrer ou viver para viver?

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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