O Bispo Diocesano de Barretos, Dom Milton Kenan Júnior, escreve um artigo intitulado “Quem fala em nome da Igreja” , quando a mídia e a liberdade de expressão, difundem, por muitas vezes, opiniões de religiosos que acabam se confundindo com o pensamento da própria instituição, na maioria das vezes em temas de profunda discussão na sociedade brasileira, confundindo o católico sobre o conteúdo dessas opiniões.

A íntegra do artigo do bispo é a seguinte:

“Vivemos num tempo onde a Comunicação Social, por meio das mídias, alcançou uma rapidez enorme, permitindo que notícias se espalhem pelo planeta em tempo real; e, ao mesmo tempo, dá possibilidade para que o maior número de pessoas possa manifestar suas opiniões a respeito dos mais variados temas e fatos.

“Nesta realidade, a Igreja Católica, a partir dos últimos anos, tem vislumbrado um novo horizonte com novas chances para difundir o Evangelho. E não têm sido poucas as vezes em que a Igreja Católica, através das redes sociais, dos meios de comunicação social, da internet, tem avançado no seu compromisso de evangelizar.

“Neste cenário, algumas vezes ocorrem fatos e situações que provocam a sensibilidade de muitos fiéis, que se servem do mundo digital para manifestar seu apreço ou sua solidariedade, mas também sua indignação ou repúdio.

” Quando me refiro aos fiéis, não me refiro somente a leigos e leigas, batizados, membros da Igreja, e sim também a ministros ordenados, compreendendo bispos, padres e diáconos, aqueles que estão a serviço da Igreja.

” Cada um tem a liberdade de expressar suas opiniões nos mais diversos temas pertinentes à sua fé e ao seu testemunho. Isso não deixa de ser uma riqueza, mesmo que revele a diversidade de posturas; pois na diversidade também se revela a unidade eclesial.

” Entretanto, é importante considerar que as opiniões pessoais, sejam nos programas de rádio e televisão, nos canais de YouTube, nas páginas de Facebook, perfis de Instagram, revistas e jornais, não podem ser consideradas como uma declaração oficial da Igreja como instituição.

“Embora correspondam ao pensamento da Igreja, e estejam de acordo com a sua doutrina, é importante distinguir o valor e o peso das opiniões e das declarações pessoais ou de grupos, daquilo que a Igreja, enquanto instituição religiosa, declara e publica oficialmente.

“Isso não significa que as opiniões pessoais, em sintonia com o pensamento da Igreja, não tenham importância. Ao contrário; mas justamente pelo fato de serem pessoais, elas não podem ter a pretensão de expressar o que a Igreja, como instituição presente no mundo globalizado, acredita e anuncia.

“Assim, a voz por excelência da Igreja, ao manifestar o que pensa e ensina, é a do Santo Padre, o Papa, com as congregações e dicastérios que constituem os diversos órgãos da Cúria Romana e estão a serviço da Igreja no mundo inteiro.

“Em nível nacional, no caso do Brasil, pronuncia-se, em nome da Igreja do Brasil, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

“E, em cada Igreja Particular, o Bispo, com os Conselhos Diocesanos que o assistem e colaboram com ele no governo da Igreja Particular.

“Assim, todos têm o direito e o dever de expressar suas opiniões pessoais diante de fatos e temas os mais diversos – que merecem o respeito e consideração cristã; entretanto, o fazem como membros da Igreja, e não em nome da Igreja.

“Por que é importante considerar estas premissas? Porque num tempo de tantas polarizações, de fake news, do campo de batalha que alguns grupos religiosos criam para defender interesses nem sempre religiosos, tenhamos um critério para discernir a verdade, e distinguir o bem do mal, sem acirrar os ânimos e criar divisões.

“Esperando colaborar para que todos possamos utilizar bem os meios de comunicação social, para criar a “cultura do encontro”, conscientes de que “o tempo é superior ao espaço” (Evangelium Gaudium 222-225); “a unidade prevalece sobre o conflito” (EG 226-230), a realidade é mais importante que a ideia (EG 231-233), e o todo é superior à parte (EG 234-237)”.

Dom Milton Kenan Júnior

Bispo de Barretos