O advogado Rafael Aguiar (foto), filho de Roberto e Leonice Azeda, enviou ao Diário um artigo relatando que “hoje (terça, 16) é um dia de emoções distintas, em uma das tristes coincidências da vida. Hoje é aniversário de minha mãe e falecimento de meu Pai”.

Ele escreveu:

familia-rafael“Há 69 anos nascia minha mãe, uma mulher guerreira e honesta, que apesar das diversidades e com toda dificuldade da vida conseguiu criar seus 4 filhos, feliz aniversário que Deus continue abençoando e guiando os passos da senhora sempre.

“E hoje também… há 34 falecia meu Pai, Roberto Azeda, ( sim.. no dia do aniversário da minha mãe) uma das figuras mais importantes da história de Guaraci, que definitivamente mudou os rumos e o progresso de nossa cidade, principalmente com a inauguração do Iate Clube Pedregal, um dos primeiros clubes do Brasil, uma pessoa à frente de seu tempo, que tenho absoluta certeza se estivesse vivo, Guaraci estaria no mesmo potencial Turístico que Olimpia hoje está com o Termas.

“Escrevi um texto sobre a sua trajetória de vida um tempinho atrás, vou compartilhar novamente para quem não viu.

PREFEITO ROBERTO AZEDA, 34 ANOS DE SAUDADE

“Dezesseis de maio de 1983. Uma fria manhã de uma típica segunda-feira de Outono. Três tiros covardemente disparados à queima-roupa, no coração da cidade, deixam órfãos não apenas os seus quatro filhos de sangue, mas quase toda a população de Guaraci que, emudecida, chorava a perda do seu maior líder – o então prefeito da cidade, Roberto Azeda Ribeiro de Aguiar, interrompendo barbaramente uma promissora carreira política de um dos filhos mais ilustres da cidade.

“Roberto Azeda amava como poucos a terra onde nasceu, aos 27 de agosto de 1947, filho de José Ribeiro de Lima e de Aracy Ribeiro de Aguiar. De família humilde, bem cedo começou a trabalhar na lavoura. Cursou o primário na Escola Estadual Professor José Antonio Zuquim, e já naquela época demonstrava possuir uma personalidade calcada na generosidade e no altruísmo.

“Aos 11 anos de idade, tendo completado apenas o curso primário, começou a trabalhar como comerciário, criando grande número de empregos com a atividade de comércio de gado. Dez anos mais tarde, casou-se com Leonice Maciel Ribeiro, tendo desta união quatro filhos: Roberta, Renato, Rogério e Rafael. Em 1968, como cultivador de abacaxi, tornou-se um dos pioneiros desta cultura na região.

“Em 1972, adquiriu sua primeira fazenda, localizada no Estado de Mato Grosso do Sul, denominada Vale do Sol, onde deu início a criação de gado de corte e plantio de lavouras, como milho e arroz, marcando sua atuação no mercado pela produtividade e pelo número de empregos que gerava. Em continuidade ao trabalho com lavouras, adquiriu posteriormente uma fazenda em Iturama, no Estado de Minas Gerais, expandindo o plantio de abacaxis, milho e arroz.

“O guaraciense Roberto Azeda também era uma pessoa bastante religiosa e, nesta mesma época, dedicou-se com bastante afinco à atividade da Igreja Matriz, e foi considerado o primeiro cursilhista católico de Guaraci, época também que vive um dos períodos mais prósperos de sua vida.

“Seguindo em sua incansável jornada, em 1977, após concretizar com êxito outros projetos, funda o loteamento de recreio e lazer, denominado Pedregal de Águas do Rio Grande, sendo um dos primeiros realizados no Brasil; logo após, inaugura o Iate Clube Pedregal – até hoje o maior empreendimento já realizado em Guaraci, trazendo para a cidade o turismo e o desenvolvimento econômico, que cedo se transformou no orgulho do município, atraindo centenas de turistas em busca de lazer e descanso.

“Em 1981, criou em Guaraci o loteamento para lazer denominado Vale do Sol, às margens do córrego Bocaina, outro projeto de grande impacto na região. Entre suas últimas realizações, encontra-se o loteamento residencial São Vicente, primeiro loteamento urbano da cidade de Guaraci, e que se tornou um modelo pelo arrojo e praticidade de seu projeto.

“Na vida política, Roberto Azeda iniciou sua carreira no ano de 1968, sendo eleito vereador para os mandatos de 1969 a 1972 e 1977 a 1982. De 1977-79, foi eleito presidente da Câmara Municipal de Guaraci. Eleito em 1973 para o cargo de vice-prefeito, mandato de 1974 a 1976.

“Em 1982, quatorze anos após o seu batismo na carreira política, foi eleito prefeito municipal de Guaraci, com uma vitória esmagadora, jamais obtida até hoje. Sozinho, teve mais votos que a soma de todos os votos dos três adversários juntos, tornando-se o candidato mais votado da história do município e o mais apoiado pela população.

“Tomou posse no dia 1º de fevereiro de 1983, impondo desde os primeiros instantes no cargo um ritmo de trabalho, respeito e responsabilidade para com o povo que o elegeu, característica de toda sua curta administração. Mesmo com todas as dificuldades e o orçamento apertado da época, o prefeito Azeda melhorou substancialmente o sistema de tratamento de água do município, bem como reaparelhou o maquinário da Prefeitura.

O fim

“Roberto Azeda foi assassinado no dia 16 de maio de 1983, com apenas 35 anos de idade, dentro de uma agência bancária da cidade, vitima de três tiros à queima-roupa, disparados por Vicente Carlos Batista, que foi condenado por homicídio qualificado. O julgamento durou dois dias, mobilizando toda a região. As duas emissoras de rádios de Olímpia deixaram de lado a programação normal e transmitiram ao vivo toda a sessão.

“O prefeito Roberto Azeda era bastante carismático e muito querido na cidade, principalmente pela população mais pobre. Com a notícia de sua morte, Guaraci mergulhou num profundo silêncio, com o comércio fechando suas portas antes mesmo que fosse decretado o luto oficial no município. Em seu enterro, políticos importantes no cenário estadual e milhares de pessoas compareceram para prestar as últimas homenagens ao homem que tanto fez para a sua terra e sua gente.

“A morte do jovem prefeito ocorreu justamente no dia do aniversário de sua tão querida esposa Leonice, numa dessas tristes coincidências da vida, aumentando ainda mais a dor e o sofrimento dos familiares. Nos comícios que o político Azeda participava, ele sempre dizia que seria um prefeito que iria entrar para a história guaraciense.

“E, infelizmente, isso muito cedo aconteceu, pondo fim a sua carreira política que, com certeza, muito ainda iria contribuir para a população guaraciense. Mas morreu o homem, não o ideal, porque a garra e a vontade de Roberto Azeda estão perpetuadas na memória dos conterrâneos daquele que foi, sem dúvida, um dos mais expressivos filhos de Guaraci”.

Por Rafael Aguiar