Por Márcio Ramos — Acompanhamos a recente entrevista dada pelo Presidente da Câmara Zé Kokão ao Diário de Olímpia. Como não foi possível responder com uma entrevista, elaborei este artigo para ver se é possível esclarecer alguns pontos (leia nota da Redação ao final).

Em primeiro lugar, com muita ênfase, fala-se em um desconto de tarifa de 5% como base para iniciar uma licitação. Como não sou advogado, não vou discutir a legalidade ou a constitucionalidade desta proposta, porque mais parece uma promessa demagógica do que algo realizável. Senão vejamos, porque 5%? É a medida da “ineficiência” do Daemo? Se sim, baseado em que números? Ou é um desejo da atual administração? E se depois de um ano a suposta concessionária alegar desequilíbrio econômico, ou demonstrar que a tarifa é insuficiente, será dado um reajuste? Lembrando que, nas concessões, reajustes e revisão de tarifas são fatos corriqueiros e têm que ser previstos em contrato.

Vamos fazer uma outra suposição: a outorga, bradada pelo nobre vereador, seria de no mínimo 60 milhões (não se falou em que prazo). Suponhamos que o faturamento do Daemo em tarifas seja anualmente de 20 milhões, já que seu orçamento é de 25 milhões. 5% de 20 milhões é 1 milhão, portanto o concessionário poderia dar 58 milhões na outorga e depois de 2 anos recuperar os 5% nos realinhamentos de tarifas.

E poderíamos conjecturar com mais algumas suposições, já que nenhum empresário é bobo de vir fazer bondades em Olímpia e com certeza a cabeça deles estaria cheio de ideias para se dar um drible neste desconto de tarifa.

O nobre vereador ainda fala que falta água em alguns bairros e ainda fala em qualidade da água. Das duas uma, ou o vereador está mal informado, ou está chamando a atual administração municipal de incompetente, pois depois de 5 anos de gestão, ter problemas básicos como este, não é um bom sinal. E mais, são muito bons os índices do Daemo no Plano de Saneamento Básico de 2019. Será que o vereador sabe?

Sobre investimentos, o presidente não foi claro: o Daemo tem ou não tem dinheiro para investir? Baseado em que números? Quanto de investimento pode ser feito por ano? Quanto de investimento necessita ser feito para cumprir as metas até 2033? O vereador abrirá estes números para a consulta popular?

A construção do prometido hospital será feita pela concessionária? Em terreno privado, da Santa Casa? A Lei de Licitações exige que o hospital e o Parque do Povo tenham um projeto básico, antes da licitação da concessão. Esses projetos já estão prontos? Quais os valores de seus orçamentos? Supomos que já tenham apurado esses valores, para que se fale que o estimado valor da outorga (R$ 60 milhões) será suficiente? Será que o material vai ser de primeira ou o mais barato? Se essas obras não forem entregues no prazo, e se demorarem para ser concluídas, a concessionária será punida? Vai continuar tratando direitinho a água e o esgoto, que é o objetivo final?

Sobre os funcionários que ficarão disponíveis, muitos deles muito especializados, tais como químicos, tratadores de água, trabalharão na prefeitura? Qual a necessidade deles lá, incharão o quadro, pagaremos por isso?

O vereador ironiza a presença de cidadãos nas audiências públicas. Ora, com uma “Câmera”, como diz o nobre vereador, submissa ao extremo ao Executivo, que não deixa os presentes se manifestarem nas galerias, que vem com um orçamento pronto, do que adianta estar presente, se não vai opinar, deixar suas ideias claras. Vamos ver se nesta audiência pública, que propõe agora, ele coloca os dados com antecedência, se deixará fazer questionamentos, se deixará ser colocados os contrapontos. Ou vai colocar regras e regulamentos que calem mais uma vez os de opinião contrária?

O presidente fala muito na defesa dos munícipes e na defesa de seus interesses. Soa muito estranho estas afirmações, pois 8 vereadores deram as costas à população, impedindo-a de colocar o seu desejo em um referendo. Faltou a coragem de se colocar perante o povo e realmente se colocar ao seu lado, defendendo seus interesses. Portanto, soam vazias suas colocações, só aumentando a rejeição aos políticos que falam de maneira demagógica com a população, desacreditando cada vez mais no mundo da política.

Infelizmente o nobre vereador desqualifica seus opositores, classificando suas informações como fake news. O fato é que ele não esclarece qualquer contraponto com uma informação consistente, simplesmente desqualifica, não se propõe a um debate sério com dados confiáveis.

Com certeza estaremos presentes nestas audiências públicas, esperando ser respeitados e com transparência, o que requer um debate destes. E lutaremos até o fim pelo real interesse da população de Olímpia.

Agradeço, em nome de todo o movimento O DAEMO É NOSSO, ao Diário de Olímpia pelo espaço concedido para este artigo, e esperamos que na próxima vez haja espaço para uma entrevista, para ser colocada a opinião diversa do que defende uma parte da Câmara e o Executivo Municipal.

Márcio José Ramos
Geólogo, gestor e consultor de empresas

Nota da Redação: O nobre articulista afirma que ‘não foi possível uma entrevista’ no Diário sobre o tema. De fato, argumentamos que é preciso aguardar a vinda de informações concretas, relatórios, documentos, em audiências públicas, para que possamos de fato debater e não com falácias, opiniões, paixões e ironias. A primeira será na próxima quinta-feira (7), e já estamos noticiando. O Diário não pretende abrir ‘debate’ sobre este ou qualquer assunto, até porque o espaço é noticioso e não opinativo, não temos página Editorial. Questionamentos financeiros, de investimentos, e tudo o mais, serão explicados, por isso o Diário prefere entrevistar quem está no comando da gestão ou cargo público, em vídeo, porque, aí sim, poderá ser cobrado posteriormente. Não é admissível, no debate sério, que sabe-se que gestão não se faz com paixões e sim à risca da ciência, da matemática, inclusive financeira, e o consultor sabe disso, que ironize também a fala de quem está sendo criticado, no caso o presidente da Câmara. Se ele fala alguma palavra errado, nós também falamos, e que atire a primeira pedra quem for perfeito no idioma, em qualquer que seja. Portanto, esse assunto está mesmo encerrado até que venham as audiências públicas, de preferência com debate e não com badernas ou palavras de ordem gritadas para atrapalhar quem precisa se aprofundar no assunto.

2 COMENTÁRIOS

  1. Como uma plataforma, ainda mais que se pretende de mídia, pode ter a tosqueira de defender o próprio medo ao debate — vale dizer, o medo à interação, que é a razão de ser deste universo? Seria já um problemão, porque de choque interno de persona digital. Mas ela vai além. Afirma ainda — sempre se distanciando do beabá do digital — que sua matriz de confiança é o governo de plantão. Faz isso ao afirmar feudalisticamente e sem pudor que o conhecimento é exclusivo dos governantes e, por dedução inescapável, que a sociedade é burra. Sendo que qualquer garoto/a sabe que a única aliança de uma plataforma, ainda + de mídia, é com suas audiências alvo, vale dizer, com a sociedade. Isso é o beabá do jornalismo — posso dizer isso como profissional que atuou na Veja, como consultor de Comunicação da ONU Brasil e como Head de Comunicação de três ministrxs.

    • Senhor da verdade. Você tem razão. Eu trabalhei no Estadão e fiz Crítica Literária na Veja Tb em certa ocasião. Cada um sabe o que faz. Comente o que quiser, desde que respeitosamente. Marquemos um café civilizada mente se for o caso. Ah… Tb entendo de política e ativismo. Trabalhei na Assembleia Nacional Constituinte 4 anos em Brasília. Currículo por currículo… Outra coisa: você sabe muito bem que nenhum veículo é obrigado a abrir espaço, seja para quem for, até mesmo autoridades tem o Espaço do Leitor. Aqui, abrimos para ele uma exceção. O jornal é meu, a vida é minha, e se não estiver contente, abra um jornal e viva com a sua ideologia. Aqui se faz jornalismo há mais de 40 anos, posso te dar aula como todas essas credenciais que, para mim, nada significam, sinto muito.