Por Ivanaldo Mendonça – O itinerário quaresmal se intensifica fazendo ressoar em nossas mentes, corações e vidas, o forte apelo á conversão. A Palavra de Deus, como farol, clareia nossos passos no caminho do Senhor. A cada semana deste precioso tempo somos desafiados a esvaziar-nos de nós mesmos e de nossos pesados fardos, deixando-nos ser preenchidos pela ternura e pelo amor de Deus.

Ser humano em novos tempos, significa, antes de tudo, resgatar o que de mais genuíno existe em cada pessoa, e que, ao mesmo tempo, resgata a imagem e semelhança de Deus manifesta em nós: nossa humanidade.

Compreender este percurso como processo possibilita-nos acolher, aceitar e experienciar cada momento e etapa do caminho, permitindo-nos, igualmente, antes de tudo, sentir-nos parte no processo, ou seja, que estamos, também nós, em constante construção/reconstrução. Fora desta perspectiva a vida humana, por mais bela que possa parecer, converte-se num pesado fardo, fazendo prevalecer o dissabor, uma vez que não favorece o processo de desenvolvimento humano de forma genuína.

“Quanto mais humanos somos mais divinos nos tornamos” expressa uma santa popular de nossos tempos, Teresa de Jesus e da Sagrada Face, que aprendeu a alcançar as grandes coisas através das pequenas coisas. Santa Teresinha buscou encontrar a grandeza de Deus por meio das realidades ordinárias e simples, método que denominou de ‘pequena via’.

No seguimento fiel de Jesus, o campo da vida deve ser acolhido como fértil terreno: alegrias e dissabores, conquistas e quedas, sorrisos e lágrimas, encontros e desencontros convertem-se em escada para as realidades eternas, para o céu.

Nesse sentido, dentre tantas coisas, deparamo-nos com a realidade da morte. Chega a Jesus a informação sobre a morte brutal que sofreram alguns Galileus (Lc 13,1-9). Citando outros exemplos trágicos Ele responde: “Se não vos converterdes morrereis todos do mesmo modo”. Parece-nos que Jesus se refere á maneira como a morte daqueles que não se converterem acontecerá; no entanto, para além da forma, Ele se refere ao fim último da vida, caso o homem não se converta, verdadeiramente ao Senhor, a morte eterna.

À luz da fé, a vida eterna é o fim último do ser humano que, criado a imagem e semelhança de Deus, como o rio busca o mar, Nele desemboca; de maneira consciente, livre e responsável cabe ao homem escolhê-Lo. Assim, a compreensão de vida e morte ultrapassa o biológico. Morte eterna é não estar em Deus! O processo permanente de conversão prepara-nos para a vida eterna.

A pergunta “Esta preparado para a morte?” perde o sentido, devendo ocupar espaço o questionamento que traz consigo o cerne da existência humana: “Estas preparado para a vida”?

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia
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