Por Ivanaldo Mendonça — O caminho proposto por Jesus e assumido por quem se dispõe a segui-Lo com fidelidade possui características muito próprias que exigem, de cada discípulo, pessoalmente, e de todos os discípulos, como comunidade de fé, abraçá-lo de forma que, suas vidas se identifiques, cada vez mais, á vida do seu Senhor.

A experiência de quem se encontra com Jesus e por Ele se deixa ser encontrado provoca um processo de contínua transformação, movendo o discípulo a aprender cada vez mais do mestre, a viver em comunhão de fé com os irmãos, a alargar horizontes, saindo em missão, promovendo o anúncio-testemunho do Evangelho Assim, cada discípulo-missionário e comunidade de discípulos-missionários se faz e se refaz.

A experiência do seguimento fiel de Jesus é marcada por uma dinâmica relacional que, a partir da relação mestre discípulo, passa pela relação discípulo-discípulo até á relação discípulos-não discípulos. O itinerário proposto considera o íntimo de cada pessoa promovendo a relação entre todas as pessoas, indistintamente; do pessoal ao coletivo, do privado ao comunitário, do indivíduo à sociedade, do encontro pessoal com Jesus Cristo à missão.

Dimensão irrenunciável ao seguimento fiel de Jesus é a sócio-transformadora, aquela que, tendo a fé cristã como referencial favorece intervenções que promovam cada pessoa e todas as pessoas. Para além da dimensão estritamente religiosa considera-se sagrada, dom de Deus, a dignidade de cada pessoa humana. Onde a dignidade humana é de alguma forma agredida, o próprio Deus, que criou-nos Sua imagem e semelhança é agredido também.

Esta dimensão fundamental do seguimento de Jesus é manifesta, com clareza, pelo Evangelho Segundo Marcos ao narrar a cura de um leproso (Marcos 1 40-45). Ao restituir sua saúde física, além de revelar o poder absoluto de Deus sobre toda e qualquer realidade, inclusive as mais temidas pelo homem, Jesus retira-o da margem, coloca-o no centro, integra-o, devolve-lhe as condições básicas para viver com dignidade, ao mesmo tempo em que questiona as sociedades, de todos os tempos que insistem em tentar resolver problemas sociais expulsando, ignorando e excluindo pessoas.

Tentar viver o seguimento fiel do Senhor ignorando a dimensão sócio-transformadora da fé consiste num grave erro que gera pseudo cristãos e pseudo comunidades cristãs, fechados em si mesmos, alienados e coniventes com sistemas que agridem a presença de Deus em seus filhos.

A ação libertadora de Jesus que salva cada homem e toda a humanidade do pecado e da morte não dispensa o cultivo, defesa e promoção de relações marcadas, sobretudo, pela paz, justiça e fraternidade.

Ivanaldo Mendonça
Padre, Pós-graduado em Psicologia