Por Ivanaldo Mendonça — O emblemático texto denominado ‘o bom samaritano’ registrado na Bíblia Sagrada, no Evangelho Segundo Lucas (Lc 10,25-37), atravessa os tempos ensinando a prática da caridade. Indagado por um mestre da lei sobre o maior dos mandamentos e, depois, sobre quem seria o seu próximo, Jesus conta a história do judeu que, assaltado e violentado, á beira do caminho, fora ignorado por seus conterrâneos e socorrido por um samaritano, membro de um povo inimigo.

A parábola e seu nobre ensinamento são do conhecimento de muitos. Somos exortados, tantas vezes e de maneiras diversas, a assumir a postura do bom samaritano, lançando um olhar de misericórdia sobre todos aqueles que, de alguma forma, estão caídos pelas estradas da vida. Consideremos, também, o outro lado da história, não contemplada pelos registros sagrados, mas, fortemente presente em nosso cotidiano.

No firme propósito de fazer a diferença, cumprindo com amor e fidelidade sua missão, muitos ‘bons samaritanos’ estão caídos á beira do caminho. O peso da missão, o acúmulo de funções, o excesso de atividades, o alto nível de cobrança, a invasão de privacidade, a falta de reconhecimento e necessário descanso, o perfeccionismo, dentre outros fatores, acabam por extenuar muitos dos que assumiram como propósito de vida socorrer, cuidar e curar.

Este pesado fardo recai, de maneira particular, sobre os líderes. Muito embora valores humanitários e espirituais embasem a entrega total á promoção do bem, é necessário contemplar a humanidades dos que se dispõe a servir. Acolher esta verdade exige abertura, tanto por parte dos liderados, que precisam olhar com misericórdia para aqueles que os guiam, enxergando e atendendo suas necessidades, quanto por parte dos próprios líderes que precisam assumir sua humanidade, admitindo limites e desenvolvendo a habilidade de dizer não.

O número crescente de transtornos como depressão, estresse e suicídio atestam que estamos inseridos num contexto pesado e exigente. Agradecemos aos bons samaritanos de todos os tempos; sem eles a humanidade sofreria muito mais. Porém, lhes aconselhamos: olhem para si próprios, zelem por si mesmos com amor e ternura. Nosso próximo não é apenas aquele que necessita de amparo; nosso próximo é também, aquele que nos socorre, lançando-nos um olhar misericordioso.  Deus cuida de nós através daqueles que nos socorrem.    

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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