Por Ivanaldo Mendonça — A celebração da solenidade da Ascensão do Senhor memoriza (recorda, atualiza e eterniza) a subida de Jesus aos céus, Seu retorno para junto do Pai (Atos dos Apóstolos 1,1-11), o envio dos discípulos a que sejam Suas testemunhas até os confins da terra (Marcos 16,15-20).

Ao longo de quarenta dias o Ressuscitado manifestou-se aos seus; o caminho percorrido ao longo deste tempo através da catequese pascal favorece que sejam dissipados, além de possíveis dúvidas, os dois maiores inimigos do seguimento fiel de Jesus: o medo e a euforia. 

O medo de lançar-se totalmente nos braços de Deus converte-se num obstáculo que alimenta a incredulidade e gera, dentre outras coisas, infidelidade diante dos desafios que a vivência da fé apresenta. A euforia, que tem como principal sintoma o distanciamento da realidade promove a relação alienada com Deus, consigo mesmo e com os outros.

A Ascensão do Senhor revela o ápice da caminhada na fé que tem Jesus Cristo como centro, a eternidade em Deus e, consequentemente, o fim último da existência humana: retornar ás suas origens, retornar a Deus.

Compreendendo os céus não como um espaço físico ao nosso modo, mas como uma realidade de natureza espiritual que expressa plena comunhão entre o ser humano de fé e seu Senhor, valemo-nos do estilo poético: somos como rios cujo sentido último da existência não está em si próprio; este só o será revelado plenamente e saboreado por inteiro quando desaguarmos no grande mar do amor de Deus.

Correndo ao encontro do Senhor, desde já, experimentemos Sua presença e amor, não como simples consequência do ser criado, mas, valendo-nos da consciência e liberdade para reconhecê-Lo como tal.

O caminho á eternidade oportuniza-nos experimentar ‘gotículas de céu’. Sem desconsiderar os limites da realidade humana no plano terreno, tais gotículas são uma amostra do que nos aguarda.

A experiência causa-nos a impressão de estarmos credenciados a citar algumas, disponíveis á maioria das pessoas:

  • a alegria de viver
  • o assumir-se filho de Deus
  • o aderir á fé em Cristo
  • o professar a fé católica
  • o dom da paternidade/maternidade
  • a amizade fiel
  • a fé partilhada em comunidade
  • a profissão/vocação vivida amorosamente
  • o exercício pleno da cidadania
  • o respeito, sintonia e zelo para com a obra da criação. 

Um sábio amigo dizia: “Quanto tudo parece tranqüilo, vez em quando, bate-nos um desconforto intenso, sem que ajam razões suficientes para tal; embora tudo esteja tão bem parece-nos faltar algo que não conseguimos identificar. Sabe qual o nome disso? Saudades de Deus! Saudades dos céus!” Assim, aquele homem de fé traduzia, de forma simples e objetiva, a busca pelo sentido da existência.

À luz do Ressuscitado caminhemos para Deus, capazes de identificar as tantas ‘gotículas de céus’ que irrigam nossas vidas, sendo, também, ‘gotículas de céus’ a tanto quanto encontrarmos pelo caminho.

Nosso lugar é o céu!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia