Por Ivanaldo Mendonça — A Assembleia Eclesial realizada, em sua fase conclusiva, de 21 a 28 de Novembro de 2021, no México, como resposta á provocação do Papa Francisco, que orientou o episcopado latino americano e caribenho pela não-realização de outra conferência episcopal, considerando que os pontos fundamentais definidos pela ultima delas, realizada em 2007, foram pouco ou nada implementados, comprometida pelo reavivamento da Conferência de Aparecida, elencou os principais desafios a serem contemplados por toda a Igreja latino americana e caribenha.

De maneira geral as doze orientações pastorais apresentadas, a título conclusivo, pela Assembleia Eclesial, possuem, como fio condutor, o clamor por participação efetiva, diretamente, nos rumos da Igreja e, uma vez que a Igreja está inserida em realidades concretas, o clamor por participação efetiva nos destinos das sociedades. Este clamor toma forma, sobretudo, através dos jovens, das vítimas de injustiças sociais e eclesiais, das mulheres, dos cristãos leigos, dos pobres e excluídos, dos povos nativos e afrodescendentes.

Uma vez que a Igreja é fundada sobre a compreensão conceitual de ‘Povo de Deus’, segundo o qual, todos, indistintamente, participam, igualmente, em virtude do Sacramento do Batismo e, distintamente, em função de sua vocação específica, a serviço deste mesmo Povo, evidenciando que todo e qualquer missão ou função exercida por um cristão católico possui status de serviço em prol do bem comum de todo o Povo de Deus, se fiéis reivindicam espaço e voz, certamente, é porque estes lhes estão sendo negados ou surrupiados.

Neste contexto eclode outro elemento que perpassa quase a totalidade dos desafios pastorais apresentados pela Assembleia Eclesial: o clericalismo. Associação dos Padres Católicos dos EUA, define clericalismo como “uma expectativa, que leva a abusos de poder, de que os ministros ordenados sejam e devam ser melhores do que qualquer outra pessoa do Povo de Deus”. O texto, publicada em 2019, afirma que clérigos (bispos e padres) são formados, frequentemente, pensando ser separados e estar acima de todos os demais membros da Igreja.

A cultura clericalista arraigada na Igreja da América Latina e do Caribe impacta sobre a totalidade dos desafios apresentados pela Assembleia Eclesial. Disposição para implementar as decisões da Conferência de Aparecida, assumindo a sinodalidade (o caminhar juntos) como forma para efetivar a sonhada conversão pastoral, não é suficiente para tornar eficaz a ação evangelizadora da Igreja, caso não ousemos, como Povo de Deus que somos, extirpar, sadiamente, o clericalismo, um câncer na Igreja.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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