Por Ivanaldo Mendonça — Com o passar do tempo, muitos de nós desenvolvem a habilidade de cuidar da vida dos outros. Fofoqueiros, caluniadores e dissimulados de plantão estão entre os títulos de reconhecimento público atribuídos aos especialistas na arte de bisbilhotar o alheio.

Nota-se igualmente que, de maneira geral, quem investe tempo e energia para denegrir, gratuitamente ou não, a outrem é, exatamente, como o pavão, exuberante ave de plumas lindas e pés horríveis; padecem de males piores do que aqueles aos quais se empenham em denegrir.

Ninguém está privado das garras dessa gente impiedosa; aliás, não deve ser este o foco da atenção de quem se esforça por viver da melhor maneira possível.  Aproveitemos as oportunidades concedidas pela vida, dóceis ou amargas, para aprofundar a reflexão acerca do autoconhecimento, assim como sobre os fenômenos interpessoais nos quais voluntariamente, ou não, estamos envolvidos.

Em relação aos ditos e não ditos, benditos ou malditos sobre nós, assim como sobre o que bendizemos ou maldizemos sobre outrem emerge a necessária distinção entre palpite e opinião.

O palpite é uma espécie de aposta, não envolve responsabilidade e comprometimento. Ao jogar na loteria, por exemplo, denominamos de palpite nossa crença numa possível vitória, ou, ao arriscar, sem fundamento algum, o resultado de uma partida de futebol. Os palpiteiros, assim como atiraram para todos os lados, desaparecem junto as suas inúteis manifestações. O dito popular ‘se palpite fosse bom seria vendido’ atesta esta verdade. Se, comprovadamente, não há utilidade em conversa de palpiteiros, não se deve devotar a eles atenção.

A opinião é fruto de uma reflexão pautada na consciência, liberdade e responsabilidade. Emitir opinião exige análise do contexto, embasamento consistente e, sobretudo, respeito á pessoa e/ou situação que está em pauta. É preciso conhecer antes de opinar. Como é bom conviver com pessoas de opinião. Não se trata de estar certo ou errado, mas sim, de poder dialogar e travar um embate cujo resultado seja saudável e frutuoso. Os especialistas em boas opiniões prosperam, inclusive, financeiramente.

“Já que não somos surdos temos que escutar tudo e de tudo”. Esta constatação repetidamente expressa por minha querida avó, aliada a uma boa dose de discernimento possibilita-nos que, acolhendo tudo e todos, preservemos o necessário e eliminemos o que nada acrescenta, sem permitir que o veneno ou ignorância dos palpiteiros nos faça perder uma noite sequer de sono.

Diante do espelho da vida, corajosamente, perguntemo-nos: tenho sido palpiteiro ou pessoa de opinião? Responder com sinceridade nos fará melhores que somos ou pensamos ser.

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia