Por Ivanaldo Mendonça — Ensina o dicionário que doutrinação é o compartilhamento de valores, crenças, ideais e disciplina, tidos como princípios que devem ser seguidos entre os membros de um grupo, comunidade, tribos e seguidores nos mais diversos campos. Em todos os lugares e espaços, dos minimamente organizados aos aparentemente caóticos existe e acontece, de alguma forma, o processo de doutrinação.

A família doutrina, o estado doutrina, a sociedade doutrina, a escola doutrina, os partidos políticos doutrinam, os meios de comunicação doutrinam, as religiões doutrinam. Engana-se redondamente quem imagina que pessoas, espaços e organizações aparentemente desarticulados, desinstitucionalizados, a-partidários, a-religiosos e tudo o mais que se possa e queira imaginar, sobretudo, os revestidos de discursos e posturas que vão na contramão do consensualmente estabelecido, não sejam ou queiram, de alguma forma, doutrinar.

Ao longo da história não faltam exemplos sobre processos de doutrinação e suas conseqüências, das positivas as fatídicas, com destaque aos encabeçados por religiões, correntes políticas e filosóficas, devido ao alto poder de impacto e persuasão que exercem sobre as pessoas, tanto as que acolhem e adotam suas proposituras, quanto as que as repelem e contrariam. O processo que a filosofia hegeliana denomina ‘dialética’, composto por três movimentos básicos – tese, antítese e síntese -, auxilia-nos na compreensão deste fenômeno histórico e natural.

Enganamo-nos quando, apresentados e expostos a uma ou mais vertentes, sobre os mais variados aspectos e dimensões, das aparentemente tradicionais as aparentemente liberais, das aparentemente conservadoras ás aparentemente modernas, estejamos livres, isentos e imunes do processo de doutrinação. O educador aparentemente liberal e moderno que, ao invés de apresentar conteúdos, informações visando despertar nos educandos a capacidade de elaboração e construção, anacronicamente condena e posiciona-se contrário ao que apresenta, induzindo os alunos a reproduzir seu comportamento aversivo, não esta fazendo outra coisa que não seja doutrinar.

Em nossos dias, uma avalanche de ações e reações patrocinadas por doutrinas e doutrinadores movidos por interesses ‘x’ ou ‘y’, considerando que ninguém é imparcial, invadem o estabelecido, tido como intocável e inviolável, valendo-se, sobretudo, da força dos mecanismos políticos, patrocinadores dos meios de comunicação sociais e, em nome da liberdade e autonomia mobilizam pessoas e espaços a aderir á sua doutrina, contrapondo-se, inclusive, violentamente, a quem dela discordar.

O que esta acontecendo? Perguntam os desavisados; Que absurdo! Exclamam os teoricamente opressores; Agora é nossa vez! Bradam os teoricamente oprimidos; Todo mundo é igual, ponderam os filósofos de butiquim; Cada um sabe o que quer! Advogam os conservadores modernos; Não fui eu! Defendem-se os parasitas; … No fundo, nem tão fundo, somos todos doutrinados e doutrinadores! 

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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