Ivanaldo Mendonça — O passar do tempo deveria vir acompanhado pela capacidade de contemplar a existência de forma sensata e equilibrada, a ponto de nos tornarmos capazes de conceder, a cada realidade, pessoa e coisa, o seu devido lugar em nós. Sem dúvida, uma série de fatores, dos biológicos e hereditários aos culturais e sociais, impacta cada pessoa, favorecendo-lhe ou não desenvolver essa competência. Referimo-nos, assim, à combinação ideal entre idade e maturidade.

“Por que usas parábolas para falar com eles?” (Mateus 13,10) perguntam os mais próximos acerca do recurso utilizado para falar às multidões. Jesus explica-lhes que a verdadeira fé favorece o ser humano a tornar ato suas potencialidades, ou seja, ser o melhor que pode ser. No sentido espiritual, ‘mistério’ não significa algo oculto, escondido ou inacessível; pelo contrário, os ‘mistérios do Reino de Deus’ referem-se às realidades reveladas e disponíveis, porém acessíveis unicamente a quem se confia aos cuidados do Senhor.

Assim, compreendem-se as palavras do mestre: “(…) eles olham, mas não veem; ouvem e não escutam nem compreendem”. E, acerca dos limites dos órgãos dos sentidos em relação à compreensão dos ‘mistérios da fé’, completa: “Assim eles não podem ser curados (…)”, evidenciando que o alcance das realidades profundas exige que abandonemos a superfície e, verdadeiramente, mergulhemos rumo ao real sentido e significado da vida e existência.

Ajudados por esta e outras referências, podemos lançar luzes acerca da maneira como percorremos o caminho da vida, compreendendo, com clareza, os processos que acontecem dentro de nós (dimensão pessoal), entre nós (dimensão relacional) e através de nós (dimensão histórico-social). Limitar o sentido da vida e existência ao alcance dos órgãos dos sentidos é como optar por viver numa caverna, atado às correntes de isopor, guiando-se por sombras projetadas nas paredes da caverna, enquanto o sol desponta logo à frente.

Correr o risco de ir além é dispor-se, livremente, a abandonar a comodidade e mesmice, abraçando a existência como desafio, aberto às soluções que, de maneira geral, estão para além de nós. Da mesma maneira, revemos, sadiamente, as formas como nos relacionamos e, sem nos guiarmos por simpatias ou antipatias, concordâncias e discordâncias, mudamos a postura diante dos outros, respeitando os que optam pela superfície, acompanhando e sendo acompanhados pelos que buscam a profundidade. Busquemos a profundidade!