G1 e Diário de Olímpia / NOTA RETIFICADA POR DETERMINAÇÃO DA JUSTIÇA — O empresário Carlos Magon, que ficou tetraplégico em um acidente no parque aquático Thermas dos Laranjais, de Olímpia em 2015, no interior de São Paulo, e sua família ainda aguarda pela indenização. Nesta quarta-feira (7), em outra seção, a Justiça adiou pela quinta vez o julgamento do pedido de habeas corpus do parque para que as investigações sobre o caso não sejam reabertas. A seção foi remarcada para 14 de março.

Solange Cunha Machado, mulher de Carlos, reclamou dos adiamentos. “Parece que a justiça está fechando os olhos, eu estou muito descrente. A justiça está omissa, não analisa com seriedade, eu acabo ficando descrente, mas uma hora a justiça vai ser feita. No tempo que tiver que acontecer, vai acontecer.”

Em julho de 2015, o empresário ficou tetraplégico após cair de um brinquedo chamado “bolha gigante”. Com a queda, as vértebras C4 e C5, que ficam perto da nuca, foram lesionadas. Outras duas pessoas também tiveram lesões graves em brinquedos do parque. Na época do acidente, a direção do Thermas dos Laranjais disse que prestou toda a assistência à vítima.

Solange afirma que a vida da família mudou após o acidente e que as filhas mais novas foram as mais afetadas. Uma das filhas, ainda adolescente, foi a responsável por tirar o pai da piscina após a queda do brinquedo.

“Elas desenvolveram problemas emocionais. A Julia toma antidepressivos e a Marina é uma criança, de 10 anos, que foi muito prejudicada emocionalmente. As duas fazem tratamento psiquiátrico, pelo plano de saúde”, conta Solange, que se tornou cuidadora do marido.

A sala da família se tornou o quarto de Carlos. A família instalou os equipamentos médicos necessários, há uma cama hospitalar e Solange dorme no sofá. “Nada mudou na vida do meu marido. Ele continua na sala do mesmo jeito, só que perdendo tempo, sem respaldo, sem reabilitação, sem o suporte necessário.”

“De madrugada ele tem falta de ar, a gente cuida. É imprescindível ele ter um cuidador, não é só banho, é alimentação na boca, higiene pessoal, ele depende de tudo.”

Sem a indenização, a família buscou se reorganizar para conseguir arcar com os custos do tratamento do empresário. “Eu abri mão de muita coisa, mudei minhas filhas de escola de cursos, abri mão de ajuda aqui em casa. Isso tudo para poder proporcionar os cuidados dele que ainda não suficientes, ainda falta a reabilitação.”

“Descrente com a justiça”, Solange lamenta não conseguir proporcionar atendimento psicológico para as filhas e a situação do marido.

“A gente acreditava que o parque ajudaria, pagaria indenização. Eu não quero dinheiro para melhorar de vida, eu quero e custear as despesas do Carlos. Ele está há quase três anos na cama. Eu quero justiça. Não vejo ninguém olhando para o Carlos, para a situação e como ele vive hoje. Eu só vejo descaso de todos os lados. “

Inquérito reaberto

Em abril de 2017, a Justiça de São Paulo decidiu reabrir o inquérito contra o parque aquático Thermas dos Laranjais para apurar as causas do acidente que deixou o empresário Carlos Magon tetraplégico, em julho de 2015.

O juiz Eduardo Luiz Abreu da Costa, da Vara Criminal do Foro de Olímpia, pediu que as investigações fossem retomadas porque considerou “não esgotadas, conforme relatório feito, as diligências realizadas pela autoridade policial” e que “requer, portanto, a devolução dos autos, para ulteriores diligências, a serem realizadas pela autoridade policial”.

Em setembro de 2017, o Parque Thermas dos Laranjais entrou com um habeas corpus para que as investigações não fossem retomadas. O julgamento deste pedido foi adiado pela quarta vez no dia 28 de fevereiro, segundo os advogados Eduardo Barbosa e Bruno Pinho. A nova seção para julgar o habeas corpus aconteceu nesta quarta-feira (7).

“Ficamos frustrados com mais um adiamento, tendo em vista que a vítima e seus familiares aguardam uma solução para o caso”, afirmou Pinho.
Na época do acidente, a direção do Thermas dos Laranjais disse que prestou toda a assistência à vítima. Em nota, o clube afirma que “tem por política não se manifestar sobre investigações policiais em curso, ratificando sua total confiança no trabalho que vem sendo realizado pelas autoridades. Informações oficiais sobre as investigações podem ser obtidas diretamente perante a autoridade policial”.
O comunicado acrescenta que o Clube Dr. Antonio Augusto Reis Neves (nome oficial do Thermas dos Laranjais) “reitera seu pesar pelo infortúnio ocorrido com o senhor Carlos Alberto Magon, mas não pode aceitar a responsabilidade que se lhe quer imputar. O Clube Dr. Antonio Augusto Reis Neves não contribuiu para o infortúnio e, embora não tenha responsabilidade pelo ocorrido, prestou toda a assistência ao senhor Carlos Alberto Magon e à sua família”.
A filha mais velha e uma enfermeira cuidam de Carlos Magon (Foto: Marcelo Brandt/G1)
A filha mais velha e uma enfermeira cuidam de Carlos Magon (Foto: Marcelo Brandt/G1)

Acidente

No dia do acidente, uma das filhas de Carlos Alberto Magon viu que o pai não conseguia se mexer e, por isso, começou a se afogar. “Ela não conseguiu tirá-lo da água e dois banhistas ajudaram. O médico informou que isso prejudicou. Ele já deveria ter saído da água numa prancha de resgate”, disse a mulher do empresário, Solange Cristina Machado Magon, de 43 anos.

NOTA RETIFICADA — Segundo a família, a direção do parque pagou, durante sete meses, os gastos de serviço “home care”, que é o atendimento feito por profissionais da saúde em casa. Para conseguir este atendimento, a família entrou com pedido de liminar. Nota do Diário de Olímpia: A empresa de home care é o Grupo Cene, cuja fundadora é Sueli Noronha Kaiser (foto), cujos pagamentos em diversas notas fiscais, inclusive uma de quase R$ 430 mil, foram assinadas pelo irmão, presidente do clube, Jorge Noronha, além de outras notas de diversos valores. Consta que cerca de R$ 1 milhão, Sueli tenha recebido para o Grupo Cene cuidar de Magon. ESCLARECENDO POR DETERMINAÇÃO JUDICIAL: A nota de R$ 427 realmente existe e foi paga, mas não ao Grupo Cene, da irmã do vice-presidente, mas AO GRUPO AUSTA, conforme a juíza Maria Heloísa Nogueira Ribeiro Machado Soares, determinou em Tutela Antecipada ao Thermas dos Laranjais, que se deixasse claro. Em nenhum momento, este Diário publicou como sendo esses R$ 427 mil para a empresa da irmã do vice-presidente da Associação.

Valor pago para o Hospital Austa

Carlos tem uma enfermeira 24 horas e precisa da ajuda de mais uma pessoa. Os gastos com fisioterapeutas, cadeira de rodas, reformas na casa, medicamentos, equipamentos médicos e psicólogos para Carlos e suas quatro filhas são pagos pela família da vítima.

Carlos Alberto Magon ficou tetraplégico após o acidente (Foto: Reprodução/TV TEM)
Carlos Alberto Magon ficou tetraplégico após o acidente (Foto: Reprodução/TV TEM)

Outros acidentes

Além de Carlos, outras duas pessoas se acidentaram no parque e disseram não receber atendimento correto. Edson Aparecido Sertorio, de 53 anos, ficou paraplégico e Gabriel Quedas Dottavio, de 31 anos, sofre de dores crônicas. Os dois moram em São Paulo, onde fazem tratamento para tentar diminuir as consequências das lesões sofridas.

Segundo o advogado Eduardo Barbosa, as investigações, em um primeiro momento, não foram feitas de forma mais profunda. “Muita gente precisa ser ouvida ainda, toda a diretoria do parque. Quero saber se esse brinquedo estava em ordem, se ele podia funcionar e o porquê esse brinquedo foi alterado depois dos acidentes.”

Edson Aparecido Sertorio, de 53 anos, também se machucou no brinquedo “bolha gigante”. No dia 17 de dezembro de 2015, o contador escorregou e bateu com a cabeça no fundo da piscina. “Enquanto eu estava sentado e aguardando socorro, meus braços estavam adormecidos”, conta Edson, que foi resgatado da piscina por banhistas e aguardou sentado pelos socorristas do parque.

Em setembro de 2015, Gabriel se acidentou em outro brinquedo – um tobogã em que duas pessoas escorregam por meio de uma boia. Ele e a esposa escorregaram juntos e, ao chegar na piscina, o corretor de imóveis bateu a cabeça. No momento da batida, ele sofreu um choque e não sentiu as pernas nem os braços.

“Depois de uns 10 minutos, chegou um socorrista com uma cadeira de rodas. Eles me levantaram e me levaram até o ambulatório. Minha esposa pediu a prancha [de resgate], e eles falaram que levariam na cadeira de rodas, que seria ‘rapidinho’”, conta.

Carlos, Edson e Gabriel sofreram acidentes no Parque dos Laranjais (Foto: Marcelo Brandt e Fabio Tito/G1)
Carlos, Edson e Gabriel sofreram acidentes no Parque dos Laranjais (Foto: Marcelo Brandt e Fabio Tito/G1)

Sem acordo

Em outubro de 2016, uma audiência de conciliação entre o Parque Thermas dos Laranjais e Carlos Magon terminou sem acordo. A família briga na Justiça para conseguir ser indenizada.

“A família estava muito ansiosa, nervosa por enfrentar o outro lado e o juiz. O Carlos fez questão de ir, mesmo com dor nas costas, nos ombros, é um esforço muito grande essas saídas de casa. Não houve acordo entre as partes, eles encararam com certa frieza esse caso. Quem passa pelo drama é a família”, afirmou Eduardo Barbosa, advogado de Magnon.

Procurado pela reportagem do G1, os advogados do Parque Thermas dos Laranjais não quiseram comentar o caso, apenas confirmaram que não houve acordo.