Por Ivanaldo Mendonça — Toda solenidade requer uma preparação á altura. Através da quaresma os católicos preparam-se para celebrar a Páscoa, fazendo memória do evento central da fé cristã, a paixão-morte-ressurreição de Jesus, acontecimento que mereceu a salvação á toda a humanidade.

De fato, em Cristo já somos salvos do pecado e da morte; basta, agora, que cada pessoa, de forma consciente, livre e responsável, faça sua adesão á salvação, abraçando a fé em Jesus, como único Senhor.

A quaresma consiste num grande retiro espiritual que remonta aos quarenta anos nos quais o povo hebreu peregrinou rumo á terra prometida; também, ao tempo no qual Jesus esteve no deserto, confrontando as forças do mal, que tentaram fazê-Lo desistir da missão de regenerar a humanidade.

As armas que acompanham os cristãos neste tempo de combate são: a oração, que conecta-nos com Deus; o jejum, que conecta-nos conosco mesmos e a esmola ou caridade, que conecta-nos com os outros, fazendo-nos enxergar, a todos, como irmãos.

A obra salvadora de Deus, manifesta em Jesus Cristo, pela ação do Espírito Santo, tem como principal objetivo resgatar ao ser humano, o que nele existe de mais original, sua essência: a semelhança com o criador. Assim, a quaresma tem como propósito central favorecer aos crentes que, renovando-se continuamente, perseverem no seguimento fiel de Jesus. “Porque se através de um só homem reinou a morte (…), com muito mais razão, reinarão na vida aqueles que receberem a abundância da graça e do dom da justiça, por meio de um só: Jesus Cristo” (Romanos 5,17). 

Ao longo deste rico período de fortalecimento espiritual, propomo-nos aprofundar, dentro do que permite este espaço, elementos que, à luz da Palavra de Deus, do ensinamento da Mãe-Igreja e da contribuição das ciências, favoreçam o resgate do genuinamente humano e, igualmente, do genuinamente divino, que existe em nós, tendo em vista aparelharmo-nos para responder, de forma equilibrada e madura, ás muitas demandas que a realidade nos impõe. 

Não obstante o dito progresso manifesto de tantas maneiras, da melhoria da qualidade de vida á revolução tecnológica, há de se reconhecer que, enquanto membros da espécie humana, a única dotada de capacidade de pensar e de comportamento responsável, estamos deixamos a desejar.

Dos muitos exemplos possíveis, salta-nos aos olhos o recente conflito envolvendo, diretamente, Rússia e Ucrânia e, indiretamente, muitas outras nações, ás quais, ignorando tantas possibilidades de diálogo e entendimento, recorrem á mais primitiva forma de violência, á guerra, como justificativa para promover a paz.

Ser humano em novos tempos: eis o desafio que a quaresma nos propõe!

Ivanaldo Mendonça

Padre, Pós-graduado em Psicologia

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